sábado, 18 de janeiro de 2014

Bicicletas pedem passagem

Geral
18/1/2014
ERECHIM
Bicicletas pedem passagem
Ideia preliminar de grupo de ciclistas, que contempla ciclovia de mão única com dois metros de largura em cada um dos lados do canteiro central da Avenida Sete de Setembro, é apresentada à Sala de Gestão do Executivo
Sara Comin
(Redação Erechim / DM)

Editora de Política em Erechim - sara@diariodamanha.net

A possibilidade de Erechim ter uma ciclovia se torna mais concreta a cada dia. Em 2013, um pedido de providências do então vereador e hoje secretário de Obras, Jorge Psidonik (PT), solicitando ao Executivo estudo de viabilidade para a implantação de uma ciclovia/ciclofaixa na cidade, foi aprovado em plenário. De lá pra cá a ideia ganhou força e mais adeptos da bicicleta como lazer e prática esportiva, mas também como alternativa futura de locomoção.
A sugestão de um grupo de ciclistas foi levada ao conhecimento do Executivo, que aceitou discutir o assunto, determinando a elaboração de um plano diretor cicloviário, a ser construído ao longo de 2014, a partir de um debate que, obrigatoriamente, envolve ciclistas, população e comerciantes do local por onde o espaço for implantado. A ideia preliminar, que contempla a implantação de uma ciclovia de mão única com dois metros de largura em cada um dos lados do canteiro central da Avenida Sete de Setembro, saindo defronte ao Instituto Anglicano Barão do Rio Branco com destino ao Estádio Colosso da Lagoa, foi apresentada, nesta semana, à Sala de Gestão – grupo de trabalho do Executivo, integrado por representantes de diversas pastas e coordenado pelo titular da Secretaria de Coordenação e Planejamento, Anacleto Zanella.
Esta sugestão aproveita o mesmo sentido do fluxo dos veículos e consequentemente os sinais semafóricos. Com dois metros de largura, margeia o canteiro central e propõe mão única porque mão dupla demandaria redução do canteiro ou do espaço de uma pista ou do estacionamento. A proposta, no local, também é justificada no baixo custo, sendo sua implantação podendo ser efetivada com a simples colocação de blocos de concreto como divisória e pintura da pista com tinta especial para pavimento.




(Ideia preliminar contempla toda extensão da Avenida Sete de Setembro / FOTO SARA RUBIA COMIN/DM)
 
Neste momento, a ciclovia nasceria com um caráter mais voltado ao lazer e ao esporte, mas com a perspectiva, após a implantação do anel viário, de fazer ligação com o Distrito Industrial e o Bairro Progresso. O trajeto contemplado leva o centro da cidade até o Estádio Colosso da Lagoa, região onde futuramente estará o Centro Administrativo, que concentrará todas as secretarias municipais num único espaço.
Por ora, o assunto ciclovia segue em análise junto com o tema do anel viário. Como se dará o ingresso da ciclovia na Praça Jayme Lago e a cor da pintura da pista, por exemplo, são questões técnicas e que serão tratadas com as autoridades competentes.
Se a implantação da ciclovia, no trajeto sugerido for definida, ela, obrigatoriamente, será realizada após a implementação do anel viário, que deve ocorrer durante este ano de 2014. A proposta está aberta e será discutida com a comunidade, envolvendo entidades, grupos sociais e comerciantes.
O despertar da sociedade para a questão, aos poucos vem acontecendo, com os questionamentos, as sugestões e os debates que o tema já provocou, inclusive nas redes sociais. O maior desafio, como já disse o secretário Psidonik, é promover a mudança cultural acerca do conceito de mobilidade urbana, hoje centrado no automóvel, mas que vai além e envolve as pessoas com o andar a pé, o andar de bicicleta e o andar de trem/ônibus, nesta ordem, estando entre as prioridades.
 
‘Ciclovia é modo evoluído de mobilidade’ 
Há espaço para a construção de uma ciclovia em Erechim? Se criada, ela não diminuirá o espaço destinado aos carros? O assunto é, relativamente, novo e divide opiniões. Muitos acreditam que não há espaço e que se uma ciclovia for criada contribuirá para aumentar o caos no trânsito. De outro lado, há quem defenda sua criação com argumentos que vão desde a importância da bicicleta para a saúde, passando pela preservação do meio ambiente e diminuição do estresse no trânsito. 
Com o objetivo de esclarecer algumas questões sobre o assunto, a reportagem do DM entrevistou o 1º sargento do 1º Batalhão Rodoviário da Brigada Militar, ex-coordenador da equipe de assessoria técnica da presidência do Conselho Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul, instrutor da PRE – Polícia Rodoviária Estadual e do Detran/RS – Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul, Lauro Pedot, que já ministrou mais de 300 palestras ministradas sobre o assunto. 
Mesmo considerando o terreno acidentado de Erechim, Pedot assegura que a implantação de uma ciclovia é viável. “Creio que é uma ótima proposta, pois a bicicleta colabora para a diminuição da obesidade e traz outros benefícios para a saúde dos usuários, economiza as reservas de energias esgotáveis (petróleo), não polui o meio ambiente, ocupa um espaço muito menor das vias para deslocamento e estacionamento, enfim, é um modo muito mais evoluído de mobilidade. Estou cursando uma pós-graduação que trata, entre outros assuntos, também, sobre os benefícios das "bikes". Penso que desde que seja feita uma análise dentro dos princípios dos Sistemas Inteligentes de Trânsito (ITS) é ótima a ideia”, avalia.

Policial rodoviário, Lauro Pedot/FOTO DIVULGAÇÃO/DM

Sobre a questão da geografia da cidade, Pedot afirmou que a tecnologia atual já colabora bastante para o deslocamento com bicicletas nesses locais. “Mesmo com automóveis, às vezes, é necessário caminhar bastante, devido à falta de locais para estacionamentos”, observa. 
Para ele, ou se usa meios mais inteligentes de transporte individual ou coletivo, ou todos vão ter sérios problemas de mobilidade, principalmente urbana. “Tem espaço para bicicletas e ciclovias desde que haja planejamento prévio, basta ver o exemplo das cidades de primeiro mundo na Europa. Lá estão criando as Eurovelo, que são vias que cortam o continente europeu. Algumas já construídas, outras em construção. Nas palestras que ministro sobre regras de segurança e normas de circulação, sempre comento assuntos ligados ao uso da bicicleta. Juntamente com ciclovias penso que sejam necessários estacionamentos para bicicletas nos estabelecimentos, de forma que seja possível colocar equipamentos para evitar furtos e roubos, por exemplo, cadeados com correntes. Temos que apoiar as ciclovias, pois é a maneira de diminuir problemas de mobilidade urbana e o estresse”, garante. 
Pedot explica que o CTB – Código de Trânsito Brasileiro não trata sobre o lado em que a ciclovia deve estar localizada. “Normalmente o que trata sobre largura da ciclovia e ciclofaixas são as leis municipais. Em Porto Alegre há o relatório final do Plano Cicloviário, que dispõe sobre isso, por exemplo. Estas especificações também são tratadas nos chamados Planos de Mobilidade Urbana de cada cidade. Os padrões internacionais de segurança estão previstos no Highway Capacity Manual (HCM) – documento norte-americano, que dá parâmetro, com fórmulas e normas técnicas de engenharia para as ciclovias”, informa.
 
Ruas largas e espaços ociosos devem ser aproveitados
Para o ciclista, piloto de enduro e juiz de Direito, Luis Gustavo Zanella Piccinin, Erechim comporta ciclovia, e sua implantação depende, exclusivamente, da vontade do administrador. “Ciclovia é mobilidade, e há espaço de sobra nos canteiros das principais avenidas da cidade, como a Maurício Cardoso e a Sete de Setembro. Neste trecho a sugestão é ciclovia de mão dupla, adaptando e otimizando o espaço disponível, isolando a área com tachões e pintando a pista destinada aos ciclistas com tinta vermelha antiderrapante”, diz.
Piccinin observa que as ruas mais largas de Erechim podem ser aproveitadas para estimular essa forma de locomoção, que inicialmente podo ocorrer por lazer, mas se tornar uma alternativa viável para desafogar o trânsito ao estimular o uso da bicicleta como meio de transporte. “Trilhos circundam nossa cidade e a par deles também seria possível construir uma ciclovia, adaptando ela à realidade local. Boas ideias de outras cidades que já implantaram suas ciclovias podem e devem ser copiadas”, comenta.


Ciclista, piloto de enduro e juiz de Direito, Luis Gustavo Zanella Piccinin/FOTO SARA RUBIA COMIN/DM
Ele também cita a área no entorno do Parque Longines Malinoswki, como um dos locais que poderia contemplar uma ciclovia com a redução parcial da calçada e adentrando ao parque. “Acredito que se fossem construídas trilhas de pó de pedra dentro do parque, a exemplo do Central Park de Nova Iorque, nos Estados Unidos, isso estimularia o uso do local por mais pessoas. Aliás, os espaços públicos só se justificam se integrarem a comunidade. E para isso é preciso harmonizá-los”, assinala. 
Piccinin também faz referência ao Seminário de Fátima, um espaço privado, mas amplamente utilizado pelo público. “O que falta para Erechim é promover ações que agreguem isso. Academias ao ar livre já implantadas são iniciativas louváveis, da mesma forma que a revitalização das praças, pois quanto mais estes espaços públicos forem utilizados pela população, menos criminalidade teremos”, pontua.
No ponto de vista de Piccinin, o entorno do Estádio Colosso da Lagoa é outro espaço que pode receber uma ciclovia com pista de corrida, estimulando as pessoas a usarem a área, que pode ser explorada economicamente pelo próprio Ypiranga. Ele também defende melhor utilização do Parque da Accie. “O espaço nobre deveria ser melhor ocupado, e todos os dias, a exemplo do parque da Fenavinho, em Bento Gonçalves, que tem uma pista circular que serve para carros, bicicletas e corridas/caminhadas, aberta ao público, no horário do dia, estimulando pessoas a utiliza-lo para sua atividade esportiva e caminhadas. A mesma sugestão serve para o entorno do Colosso da Lagoa. Tem que haver rua, também ao redor do Ypiranga, que poderia explorar economicamente a parte de baixo de suas arquibancadas”, sugere.



(Sugestão de Piccinin contempla o entorno do Estádio Colosso da Lagoa / FOTO SARA RUBIA COMIN/DM)
 
Menos rodas, mais saúde
O empresário e ciclista, Evandro Anziliero, também acredita que há espaço para uma ciclovia em Erechim, realidade em muitas cidades do mundo e não vê problema quanto ao relevo. “Ciclovia é importante tanto para o lazer quanto para as pessoas se deslocarem ao trabalho. Acredito que com incentivo das empresas muitos trabalhadores optariam por esse meio de locomoção, que demanda tempo bem menor do que hoje leva o ônibus da empresa”, assinala. 
Anziliero idealiza uma ciclovia que ligue os bairros ao centro e o centro às universidades e à área industrial. “Deveria ser feito uma via que sobe e uma via que desce no mesmo sentido dos automóveis. Na Itália existem muitas, e por lá a coisa funciona porque, efetivamente, a bicicleta substitui o carro. Também penso que teria de haver lugar para estacionar estas bicicletas no centro, assim as pessoas poderiam ir até as lojas parar sua bicicleta em frente, fazer as comprar e ir para onde quiser depois”, diz.
Em 2013 Anziliero participou do projeto Trail Brasile 2013, desenvolvido por um grupo de ciclistas de Erechim e da Itália, que percorreu em 14 dias, aproximadamente, 1600 km de estradas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Argentina. Além de esportivo, os objetivos também foram histórico e cultural, visando mostrar aos ciclistas do Vêneto (três de Verona e dois de Padua) toda a beleza natural que a região tem, e que muito lembra esta parte da Itália. Há poucos dias, o empresário e uma turma de italianos participaram de outra viagem pelo Rio Grande do Sul. “Em vários lugares por onde passamos, como Dona Francisca, que é uma cidade pequena, já há ciclovias. Implantar uma ciclovia em Erechim é importante para desafogar o transito, manter a cidade menos poluída e também ajudar no condicionamento físico das pessoas que a utilizarão, contribuindo para uma vida mais saudável”, justifica, revelando que no período de 3 a 16 junho deste ano, um grupo de Erechim irá pedalar na Itália.


Empresário e ciclista, Evandro Anziliero/FOTO DIVULGAÇÃO/DM
 
 
Exemplo que vem da França
Ministério dos Transportes quer subsidiar o trajeto entre a casa e o trabalho e pagará aos trabalhadores que se deslocarem de bicicleta
 
Com diversos sistemas de bicicletas públicas que serviram de exemplo ao mundo todo, como em Paris e Lyon, a França está a ponto de obter mais um avanço no setor da ciclomobilidade: o Ministério do Transporte francês anunciou a intenção de subsidiar trabalhadores que forem de bicicleta ao trabalho. A proposta, encabeçada pelo ministro Thierry Mariani, a exemplo de outros países que já adotam a prática, como a Bélgica, visa pagar a cada ciclista 21 centavos de euro por quilômetro percorrido no trajeto de casa ao trabalho. O valor será repassado pelas empresas em troca de isenções fiscais. A estimativa do governo francês é de que a medida represente uma economia de 5,6 bilhões de euros na área de saúde, em contrapartida a despesas de 20 milhões de euros com o projeto.



(Uma das ciclovias que compõem os atuais 371 quilômetros de vias cicláveis existentes em Paris / FOTO WIKIMEDIA COMMONS)

 
O incentivo apresentado integra um programa amplo de melhoria das condições de transporte dos usuários de bicicleta nas cidades francesas, incluindo também iniciativas como a construção de bicicletários e paraciclos em pontos estratégicos como estações de trem, bonde, e terminais de ônibus, além de medidas de segurança para coibir furtos e roubos. O anúncio, porém, sofreu questionamentos de ativistas do segmento, que pleiteiam a obrigatoriedade do subsídio para todas as empresas francesas, já que, por enquanto, a adesão ao programa não é obrigatória.
Cidades como Paris contam, atualmente, com uma ampla gama de serviços públicos destinados a favorecer o transporte por bicicleta. O próprio site da Prefeitura parisiense conta com um portal interno para esclarecer dúvidas tanto dos munícipes quanto dos turistas, com mapas, roteiros, simuladores de trajeto e dicas diversas sobre turismo e a conduta do ciclista na via.
 
Fonte: www.vadebike.org
 

Fonte: Jornal Diário da Manhã. Disponível no site :. Acesso em 18 de janeiro de 2014.

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